A curiosidade matou...o marasmo
- Joana C. Ferreira
- 9 de out. de 2015
- 2 min de leitura
Tinha 10 anos. Durante umas férias de natal contava-me uma amiga com os seus olhos tristes que quando comentou com a avó que ainda não tinha ido ver as notas do primeiro período ouviu de imediato um “pois… a curiosidade matou o gato”. Na altura, aquela frase incomodou-me e eu demorei algum tempo a entender o motivo desse incómodo. Por um lado, tomei as dores da minha amiga, que não merecia ouvir aquelas palavras. Por outro, como era possível ligar a curiosidade a algo negativo? Nunca mais me esqueci desta história. Sei agora porquê. Porque – caramba! – maldizer a curiosidade é dizer um bocadinho mal de mim também! Sei-o agora:
Sou curiosa. Muito curiosa.
” O que significa procrastinar?
Para que servem as supra-renais?
Que software pode ser usado para sincronizar pastas?…”
Perguntas para as quais não sei a resposta são música para os meus ouvidos.
Sou tão curiosa que não descanso até saber a resposta a perguntas que, embora surjam frequentemente aos outros, a mim colam-se à pele. Quando estou particularmente corajosa, parto à descoberta das minhas dúvidas também. Gosto de sentir a energia, de acrescentar, de ampliar o meu mundo. Sei que não há sempre respostas… mas ninguém me tira a estimulante procura. Curiosidade é procura, é querer saber.
Acredito que é a curiosidade que nos motiva a sabermos mais, a sabermos melhor, a descobrir, a alargar horizontes, para que nos tornemos mais autónomos, mais capazes. Na minha profissão, é quando nos interessarmos genuinamente por alguém que fazemos com que a própria pessoa se queira conhecer, a si e aos outros. Havendo curiosidade, não há aborrecimento, apatia ou desesperança. É a curiosidade que permite que encontremos em nós, nos outros, no mundo, respostas e perguntas, semelhanças e discrepâncias, coisas que nos façam rir com o corpo todo ou que nos comovam até às lágrimas.
Há um lado lunar? Claro. Também há a habitual confusão entre curiosidade e “coscuvilhice”, o preconceito de que existe uma idade para os “porquês”, a ideia pré-concebida de que quem quer saber muito é para se “armar” (o bom é saber, mas não parecer que se sabe), até ao pensar-se que a curiosidade é típica das mulheres, etc, etc, etc ..
Num espaço relacional minado pelo medo de perguntar (medo da crítica, do ridículo, do erro), por que não potenciar o motor de busca que é a curiosidade para descobrir em vez de bloquear? A curiosidade é o boost para aumentamos o conhecimento e, com isso, vem a segurança em nós, a nossa auto-estima.
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